Cassiano Ribeiro Santos
Filho de um militar e uma poetisa, durante a adolescência, hesitou muito entre qual vocação seguir. Acabou por seguir o exemplo do seu pai e se alistou no Exército Francês. Mandado para as trincheiras durante a primeira guerra mundial. recebeu um tiro na coluna que lhe fez ficar paralítico pelo resto da vida. Esperado seria então que ele lamentasse a vida e, principalmente, o fatídico acidente de guerra; mas Joe Bousquet era de uma cepa distinta dos homens comuns. Decidiu, se é que podemos falar assim, seguir a carreira da sua mãe e se tornou um poeta fabuloso! Em suas reflexões sobre seu trágico destino, costumava dizer (palavras minhas):
_ Sou um poeta Surrealista. Minha matéria de trabalho é a imaginação. Para imaginar, um homem precisa ficar imóvel, a mínima ação física agita a alma imaginativa e estremece as imagens, como um pássaro na superfície de um lago onde o céu se reflete. Que situação mais adequada para um homem imaginar senão a inteira imobilidade em que me encontro? Sou um privilegiado! Essa bala que me pôs sobre um leito foi o instrumento de um destino glorioso. Eu nasci para encarnar esse tiro que já me esperava!
Muito mais do que resignação, Joe Bousquet, com tal pensamento, emprestou nobreza e brilho a um episódio absolutamente lamentável e ignóbil (qual homem não lamentaria um tiro na coluna?). Ao agir assim, ele transformou o acontecimento, de sórdido, em admirável, emprestou brilho ao que não tinha. Esse é o verdadeiro sentido do estoicismo, não resignar, mas ser digno do que lhe acontece. Emprestar à vida algo que só nossa alma e coração possui: beleza, ESPLENDOR! Seu exemplo de vida brilha muito acima dos belos poemas que escreveu, e no panteão dos poetas da humanidade a luz do seu AMOR FATI, sua contra-efetuação do acontecimento, sua CONFATALIA, como os Estoicos chamavam essa atitude de ser digno do que nos acontece, há de brilhar como uma estrela que explode e inunda o céu de luz. Sua postura afirmativa da vida foi uma supernova cujo esplendor muito em breve irá nos iluminar!
O Amor é tudo (Love is everything)
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
No Cinema Com Platão
Cassiano Ribeiro Santos
Muito sintomático que, no seu livro A República, obra da velhice e considerada, junto com As Leis, o seu canto de cisne, Platão em momento nenhum trabalha com uma das suas mais originais e impactantes ferramentas conceituais: a Teoria da Reminiscência. Praticamente não há uma única alusão à essa via do conhecimento tão celebrada nas obras anteriores. A maioria dos comentadores falam que Platão se tornou um cético no final da sua vida, depositando na teoria do estado ideal todas as suas esperanças de um mundo melhor, a paideia ocupando o lugar da mística recordação dos arquétipos um dia vislumbrados por nossa alma. A verdade, porém, parece-nos ser outra: nessa obra, o filósofo nos apresenta a sua famosa Alegoria da Caverna. Nesse mito de soberania gnóstica, vemos os homens condenados à ignorância e às opiniões grosseiras sobre a realidade última das coisas, conhecendo apenas as sombras projetadas no interior da caverna. Para maior convicção do leitor, a teoria da reminiscência deveria ser eliminada, pois seria como um furo na lona, deixando entrar uma réstia de luz verdadeira, na medida em que estes prisioneiros poderiam acessar o conhecimento via este artifício espiritual mesmo presos e algemados no interior da caverna, não precisando assim romper com as formas de tirania que os aprisionavam, saindo para a luz natural do sol da Verdade lá fora (como era a proposta do vetusto filósofo). Feito Menelau sacrificando Ifigênia, Patão sacrificou um de seus mais diletos filhos, a Teoria da Reminiscência, para dar convicção e verossimilhança ao seu mito! Colocou a Eikasia, a fantasmagoria imaginária do mito acima do Logos, confundindo os leitores e fazendo o inverso do que pregava, enterrando mais ainda os leitores no fundo da caverna onde impera a ilusão da arte e dos mitos! Era um artista, acima de tudo. Um feiticeiro. Um Próspero dissimulado que, na velhice, finge ter jogado fora a varinha mágica e fica com ela sob as vestes brincando com Ariel e Caliban! Nietzsche foi um dos primeiros a perceber essa irredutível alma de artista do grego genial e enlouqueceu de tanta inveja!
Muito sintomático que, no seu livro A República, obra da velhice e considerada, junto com As Leis, o seu canto de cisne, Platão em momento nenhum trabalha com uma das suas mais originais e impactantes ferramentas conceituais: a Teoria da Reminiscência. Praticamente não há uma única alusão à essa via do conhecimento tão celebrada nas obras anteriores. A maioria dos comentadores falam que Platão se tornou um cético no final da sua vida, depositando na teoria do estado ideal todas as suas esperanças de um mundo melhor, a paideia ocupando o lugar da mística recordação dos arquétipos um dia vislumbrados por nossa alma. A verdade, porém, parece-nos ser outra: nessa obra, o filósofo nos apresenta a sua famosa Alegoria da Caverna. Nesse mito de soberania gnóstica, vemos os homens condenados à ignorância e às opiniões grosseiras sobre a realidade última das coisas, conhecendo apenas as sombras projetadas no interior da caverna. Para maior convicção do leitor, a teoria da reminiscência deveria ser eliminada, pois seria como um furo na lona, deixando entrar uma réstia de luz verdadeira, na medida em que estes prisioneiros poderiam acessar o conhecimento via este artifício espiritual mesmo presos e algemados no interior da caverna, não precisando assim romper com as formas de tirania que os aprisionavam, saindo para a luz natural do sol da Verdade lá fora (como era a proposta do vetusto filósofo). Feito Menelau sacrificando Ifigênia, Patão sacrificou um de seus mais diletos filhos, a Teoria da Reminiscência, para dar convicção e verossimilhança ao seu mito! Colocou a Eikasia, a fantasmagoria imaginária do mito acima do Logos, confundindo os leitores e fazendo o inverso do que pregava, enterrando mais ainda os leitores no fundo da caverna onde impera a ilusão da arte e dos mitos! Era um artista, acima de tudo. Um feiticeiro. Um Próspero dissimulado que, na velhice, finge ter jogado fora a varinha mágica e fica com ela sob as vestes brincando com Ariel e Caliban! Nietzsche foi um dos primeiros a perceber essa irredutível alma de artista do grego genial e enlouqueceu de tanta inveja!
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Lembranças
"Algumas pessoas que passaram pela nossa vida, por mais que a gente lute contra, que a gente se esforce em não lembra-las, elas continuarão sendo sempre inesquecíveis...continuarão sempre presentes na história da nossa vida, nos nossos momentos alegres, por que são neles que lembramos da alegria de quando essas pessoas se faziam presentes ,nos nossos momentos de solidão, por que são nesses momentos que, as lembranças invadem o nosso coração, a nossa alma, e sentimos a força que tem dentro de nós, a palavra saudade."
Colagem e acrílico sobre cartolina, legendada com versos. Ambos feitos após ver uma exposição de águas-Forte do Francisco de Goya no Museu de Arte Moderna, em Salvador, no distante ano de 1999! Detalhe é que, na época, eu hesitava muito entre ser escritor ou pintor e a colagem representou bem esse meu dilema de então! Na dúvida, acabei me tornando os dois: um pintor bissexto e um escritor canhestro! Lasquei minha alma em duas bandas!
O Imortal
Quando você possui um pesadelo recorrente, quase toda noite reencenando-o nos difusos átrios do sonhar, isso é tipicamente um sintoma, um trauma não resolvido e latente que retorna como uma chave errada que tenta inútil e insistentemente abrir uma porta! Mas conheço uma situação análoga em que você tem um sonho e, quinze anos depois, torna a ter exatamente o mesmo sonho do qual voce quase não se lembrava mais: sonhar e recordar, como se em uma onírica e inconsciente anamnese platoniciana; então, outros quinze anos e você volta a ter o mesmíssimo sonho.... Isso significa, independente do conteúdo e do trauma correlato, que parte de seu espírito trabalha em ritmos e diapasões que apontam para uma duração muito maior do que apenas 70, 90 anos de existência, assim como, pelo intervalo cada vez maior entre os relâmpagos e trovões, podemos concluir que a uma tempestade se perde nas montanhas, resolvida em vapores e murmurando seu desgosto! Este arrazoado é, para mim e para os que experimentam esse tipo de intermitência e repetição, uma espécie de prova psicológica da eternidade da minha alma! Para terror e desespero dos meus inimigos!
Cassiano Ribeiro Santos
Genios Taurinos
Quando Balzac já possuía quase quarenta anos, recebeu uma carta anônima de uma admiradora que assinava "A Estrangeira". Imediatamente se enamorou apaixonadamente dela e lha assediou durante um ano, sem conhecer sequer o seu nome, com seus arrebatamentos de amor onde derramava nas cartas toda a genial loucura do seu coração.Logo o conto de fadas se tornou realidade; A estrangeira veio da Rússia e lhe propôs um encontro em uma cidade na Suíça. Balzac teve que fazer o possível e o impossível para ganhar em dez dias cem luízes de ouro, escrevendo livros a todo vapor, para poder viajar. Se encontraram em Neuchâtel e ela se lhe entregou totalmente. Essa mulher era Eva Von Hanska, a esposa de um riquíssimo conde da Ucrânia, que já tivera vários filhos mas ainda sendo uma jovem beldade rubensiana com cabelos negros e uma boca sensual e cruel. Os amantes juraram casar-se quando o conde estivesse morto. Balzac estava fora de si; Já se via como senhor das possessões ucranianas, em seu quarto de trabalho fixou um quadro com a visão do castelo dos Hanski, em Wierzchownia. Ao mesmo tempo queria tornar-se rico, famoso e poderoso para poder converter sua Eva na "dona de Paris". Lhe saudava com a expressão "Ave, Eva!" e lhe escrevia cartas intermináveis, rebuscadas de banal patetismo nas quais punha a sua amada pelos céus, céus estes totalmente ofuscados. " Te amo como se ama a Deus, como se ama ao destino", dizia em uma de suas litanias embriagadas.
O que se seguiu foi um verdadeiro martírio. Teve que fazer gigantescos esforços econômicos para poder enfrentar a situação. Um segundo encontro em Genebra ele pagou com um serviço que lhe comprometia entregar doze livros, a maioria ainda não escritos. Mais tarde não conseguia juntar dinheiro para viajar até Eva, apesar de trabalhar como escravo, por estar nas mãos de seus credores e por seguir contraindo dívidas com suas aquisições luxuosas em vistas do casamento combinado. Frequentemente se encontrava na miséria enquanto sua amada, sem compreender a sua situação, continuava em sua vida feudal e lhe torturava com seus caprichos e sua altivez. Depois de alguns dias maravilhosos em Viena, ficou sem ver Eva durante sete longos anos. Após dez anos desta "vida conjugal espiritual", morreu o conde Hanski, porém Eva seguiu protelando cumprimento de sua promessa com diferentes pretextos. Balzac teve que ter paciência por mais sete anos antes de poder conduzi-la como sua esposa a sua faustosa vivenda parisiense, em maio de 1850. Poucas semanas depois, morreu. A quimera havia cumprido sua missão.
In Tragische Literaturgeschichte (História Trágica da Literatura), Walter Muschg.
Nota do Tradutor: Os historiadores e críticos são unânimes em comentar esse episódio na vida do Balzac como uma profunda ironia do destino, uma patuscada romântica. Nenhum deles consegue perceber que Balzac morrera de amor ao, finalmente, após dezessete anos de espera, morar com a sua amada sob o mesmo teto! Prova disso, para mim, é que ele escrevera seu mais esotérico romance, Seraphita, nos períodos em que com ela se encontrava! Nesse mágico romance vemos um ser pleno e iluminado, de sugestivo nome angelical, esbanjando bonomia e e felicidade por ser um ser composto pelos dois sexos unidos na mesma alma. Um mítico andrógino tal como Aristófenes, em O Banquete. Um ser que não precisava mais de nenhum contato carnal com ninguém por estar absolutamente pleno de amor. Seráphita, publico aqui em primeira mão para registro dos acadêmicos, era um secreto relato autobiográfico, era O CASAL, tal como Zelda e Fitzgerald anos mais tarde e tantos outros intensos e abençoados casais que na terra realizam a promessa divina de serem uma única alma quando nas suaves noites celestiais!
₢ Tradução do alemão e notas Cassiano Ribeiro Santos
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Olhando O Horizonte
Menino curioso, um dia, olhando o horizonte pela janela do meu quarto, calhou-me refletir sobre a natureza dos raios e trovões. Ao longe, resolvida em vapores e murmurando seu desgosto, uma tempestade se afastava. Qual seria a origem daquela luz intensa que a descarga elétrica provocava? Fácil deduzir que tal esplendor se deve à queima do oxigênio ao longo do percurso do raio, pois que a eletricidade, em si mesma, não emite luz ou calor exceto quando encontra uma resistência. A quantidade de oxigênio queimada é tão grande e instantânea que um imenso vácuo é criado ao longo do percurso do raio (se não fosse irmão mabaço de um céu cinzento e obscuro, poderíamos, acredito, ver o rasto fumarento de um corisco feito o rabo chamuscado de um cometa). A gigantesca pressão atmosférica imediatamente faz com que volumes de ar ocupem o vácuo gerado, provocando choque entre essas massas. Desse choque titânico de camadas de ar de alta pressão atmosférica surge o trovão. Um ouvido treinado perceberá que as variações de amplitude e frequência do trovão são análogas ao desenho coruscante e cabeludo do raio a cortar os céus!
₢ CRS
Prmeira Prova Epistemológica Da Existência De DEUS
Estudantes sérios de filosofia conhecem bem a famosa sentença do Georges Berkeley: ESSI EST PERCIPI, Ser é ser Percebido, onde este filósofo condiciona a existência ao ato de percepção, naquilo que ficou conhecido como a mais extremada postulação da filosofia idealista. Quanto às coisas que devem existir sem serem percebidas por ninguém, por exemplo, as pilastras sob o concreto que sustentam a edificação onde habito, ou o sol atrás das nuvens que me ilumina com o seu palor, Berkeley dizia: EXISTEM PORQUE DEUS AS PERCEBE!
Vejamos agora um famoso e paradoxal princípio da Física Quântica que afirma ser a solidez do mundo experimentado por nós uma consequência da nossa interferência (ou percepção) das ondas quânticas, o estado mais elementar da matéria. Na antológica experiência da dupla fenda (mais detalhes dessa experiência no google), Um elétron se comporta como onda, mas se for medido e observado, ele vai funcionar como partícula, inclusive projetando esse comportamento de partícula em seu passado imediato. É o que os físicos chamam de "colapso da função de onda", um sequestro de energia pontual no emaranhado quântico. Por extensão, todos os elétrons do universo devem a sua consistência granular ao fato de estarem sendo observados ou medidos. Os materialistas radicais alegam que um elétron visado como partícula poderia servir de observador ou instrumento de medição para outros e outros em uma reação em cadeia se espalhando a todo o universo, inclusive tornando irrelevante que a primeira e "mítica" medição tivesse sido a de uma consciência humana ou animal. Tão hipótese entretanto não daria conta da simultaneidade do universo que existe inteiro como matéria física "granular" em incomensuráveis proporções, não haveria como todos os elétrons do universo serem testemunhas uns dos outros em um mesmo momento do presente (ainda que se aplique a teoria dos blocos de espaço-tempo para desconstruir essa ideia do senso comum de que todo o universo coalesce em um mesmo e universal momento do tempo, ainda assim, a velocidade necessária para um elétron "informar" todos os elétrons da galáxia de Andrômeda no quadrante M31, seria assombrosamente maior do que a velocidade da luz, limite não autorizado pela ciência para se ultrapassar {tenho as equações aqui mas vou poupar meus leitores de tal enfado}). Resumindo: é preciso que algo esteja observando todo o oceano quântico do universo para que ele exista como o conhecemos, postes, nuvens, maletas, cometas, cordilheiras e cascatas! Esse algo chama-se JAVH, JEOVAH ou simplesmente DEUS! Eis aqui uma prova epistemológica da existência de Deus capaz de substituir as antigas provas lógicas, cosmológicas e ontológicas dos filósofos antigos! Se eu a formulasse em um congresso de filosofia na Alemanha, estaria agora na capa do New York Times, mas como estou nesse buraco negro congelado do universo que é Vitória da Conquista, só DEUS mesmo para me fazer existir!
₢ Cassiano Ribeiro Santos
Vejamos agora um famoso e paradoxal princípio da Física Quântica que afirma ser a solidez do mundo experimentado por nós uma consequência da nossa interferência (ou percepção) das ondas quânticas, o estado mais elementar da matéria. Na antológica experiência da dupla fenda (mais detalhes dessa experiência no google), Um elétron se comporta como onda, mas se for medido e observado, ele vai funcionar como partícula, inclusive projetando esse comportamento de partícula em seu passado imediato. É o que os físicos chamam de "colapso da função de onda", um sequestro de energia pontual no emaranhado quântico. Por extensão, todos os elétrons do universo devem a sua consistência granular ao fato de estarem sendo observados ou medidos. Os materialistas radicais alegam que um elétron visado como partícula poderia servir de observador ou instrumento de medição para outros e outros em uma reação em cadeia se espalhando a todo o universo, inclusive tornando irrelevante que a primeira e "mítica" medição tivesse sido a de uma consciência humana ou animal. Tão hipótese entretanto não daria conta da simultaneidade do universo que existe inteiro como matéria física "granular" em incomensuráveis proporções, não haveria como todos os elétrons do universo serem testemunhas uns dos outros em um mesmo momento do presente (ainda que se aplique a teoria dos blocos de espaço-tempo para desconstruir essa ideia do senso comum de que todo o universo coalesce em um mesmo e universal momento do tempo, ainda assim, a velocidade necessária para um elétron "informar" todos os elétrons da galáxia de Andrômeda no quadrante M31, seria assombrosamente maior do que a velocidade da luz, limite não autorizado pela ciência para se ultrapassar {tenho as equações aqui mas vou poupar meus leitores de tal enfado}). Resumindo: é preciso que algo esteja observando todo o oceano quântico do universo para que ele exista como o conhecemos, postes, nuvens, maletas, cometas, cordilheiras e cascatas! Esse algo chama-se JAVH, JEOVAH ou simplesmente DEUS! Eis aqui uma prova epistemológica da existência de Deus capaz de substituir as antigas provas lógicas, cosmológicas e ontológicas dos filósofos antigos! Se eu a formulasse em um congresso de filosofia na Alemanha, estaria agora na capa do New York Times, mas como estou nesse buraco negro congelado do universo que é Vitória da Conquista, só DEUS mesmo para me fazer existir!
₢ Cassiano Ribeiro Santos
sábado, 5 de outubro de 2013
Junho de Outrora
A existência nem sempre é habitual,
Um dia, entre outros, acontece de ser belo,
Era Junho, outrora; você, meu amor sincero,
Contemplava ao meu lado, a lua mutual
@CRS
Um Mico Filosófico
Cassiano Ribeiro Santos
É conhecido de todo estudante de filosofia o dilema de Kant quando este, após ter destruído especulativamente todos os dogmas do conhecimento (as famosas antinomias da razão pura), volta a apelar para uma dimensão irracional e não cognitiva, os sentimentos morais, pra fundamentar a conduta humana no contexto social (cf. a Crítica da Razão Prática). Sobre esse recuo, Nietzsche irá conceber uma famosíssima e cômica alegoria, comparando Kant a uma raposa que foi capaz de roer as grades da cela onde estava confinada, mas que não teve a coragem de fugir. Schopenhauer, para mim, criou uma ilustração mais humorada e precisa para essa “démarche” filosófica do sábio de Konisberg. Disse ele que Kant se assemelhava a um galante sedutor mascarado em um baile à fantasia, que passa toda a noite tentando conquistar uma misteriosa mulher, também mascarada, para depois, após ter conseguido lograr seu desejo, retirar a máscara e descobrir que a enigmática colombina era a sua brejeira esposa com quem ele sempre estivera casado!
Nota do Autor:
O Gênio une as intuições às ideias sem o intermédio do conceito! O Gênio Romântico. Já fui um! CassianoO SEM QUERER, QUERENDO DOS FILÓSOFOS!
Cassiano Ribeiro Santos
Em seus florilégios sobre o verdadeiro amor, Sócrates nos ensinava a não utilizar de rasgados elogios exaltando o ser amado, pois, caso viesse a conquistá-lo, todo o mérito seria atribuído ao amante vencedor, aos seus belos discursos e a desonra muito em breve cobriria o ser amado tornando-o vulgar e desinteressante. "Ela cedeu pela beleza dos meus encômios, pela verdade do meu amor, ou se entregou a mim por ser volúvel e barata"? Eis um tipo de questão que muito cedo assalta a mente de um dom Juan! Por outro lado, caso o ser amado não ceda ao assédio dos discursos inflamados, o mérito e o valor desse ser amado toma proporções irreais, aumentando assim o sofrimento e a derrota do amante frustrado. O que o apaixonado deve fazer é estimular, no ser amado, um amor em comum por um bem maior e exterior aos dois em questão. No amor comum por outra e diferente coisa, o amante e a amada podem compartilhar seus sentimentos com proporção e valor adequado. Podemos ver isso nos casais que, através dos filhos, continuam se amando, nos aficionados por uma arte ou esporte que vivem juntos com ardor a cultivo dessa arte ou a prática desse esporte, mas também, e principalmente, quanto mais elevado e duradoiro for a coisa comum compartilhada pelos sentimentos do casal, mais sublime e verdadeiro será esse amor comunal, como esses casais que professam a mesma e sincera fé em Deus, ou o mesmo ardor pela sabedoria. Esse é, grosso modo, o verdadeiro sentido do amor platônico, tão vulgarizado pela sub-literatura. Considerando que o verdadeiro amor, o mais valioso, era mesmo o amor pela Filosofia e, como era ele, Platão, o inventor da filosofia tal qual conheceríamos, não estranharemos a quem deduzir que Platão queria mesmo dizer que o verdadeiro amor era amar a obra que ele escrevia! Nenhuma novidade nisso! Ser amado por seus leitores é a ambição maior de todo pensador! O próprio Espinosa, aparentemente tão sóbrio, fora capaz de desqualificar a Bíblia Sagrada como modelo de sabedoria dos homens para, sub-repticiamente, afirmar que sua Ética deveria ser a escolhida como modelo de vida (que ele não a tenha publicada em vida, é irrelevante, visto que ele a sonhou para ser lida posteriormente). Vemos assim, de modo apressado e temerário, que a transcendência proposta pelo amor platônico é apenas um disfarce da vontade imperiosa do amante em seduzir. Cuidado, incautas!
FICÇÕES TEOLOGAIS
Autor:Cassiano Ribeiro Santos
Em meados de 1952, durante a guerra da Coréia, o Almirante Cassidy Brooks aportou em uma distante e praticamente desconhecida ilha no arquipélago do Pacífico conhecido como Ilhas Fiji. Ali encontrou uma comunidade de primitivos melanésios autóctones e sem absolutamente contato com os homens ocidentais. O Almirante comenta que, apesar dos estudos feitos confirmarem que eles não possuíam de fato nenhum contato com a civilização ocidental, nenhum traço lingüístico, algum costume ou mesmo alguma lenda que revelasse um vago conhecimento sequer de outras culturas; esse ilhéus, entretanto, adorava uma cruz, ostensivamente tatuada nos corpos, fincada nas praças e no alto dos penhascos limítrofes da ilha com o oceano. Tão logo dominou rudimentos da língua nativa, o almirante percebeu que muitos dos valores e conceitos do cristianismo existiam incorporados ao repertório daquela exótica religião: um único Deus de origem Celestial, a compaixão e misericórdia pelos inimigos, o consórcio de anjos alados como mensageiros desse Deus e sua ressurreição de entre os mortos. Isso muito intrigava o antropólogo amador – na verdade, um militar em missão de guerra – pois, a mitologia e os ritos de outras tribos do arquipélago, do mesmo tronco lingüístico e filogenético destes, não possuíam absolutamente nada parecido, sendo todos animistas, politeístas ou mesmo absolutamente pagãos, como os famosos e hedonistas anfitriões do Almirante Cook. Após conquistar a confiança do sacerdote dessa pequena tribo, perdida em uma nebulosa e sonífera ilha do Pacífico, O almirante Cassidy conseguiu que os sacerdotes do culto da Cruz o levassem até o santuário onde havia a Cruz verdadeira que só os iniciados podiam adorar “ in sitio”. Em uma brumosa manhã, galgaram os penhascos onde havia a entrada de uma gruta e nela penetraram, logo atingiram uma espécie de átrio natural com um reverente altar no calcário esculpido. A luz das tochas revelou o objeto cultuado sobre ele. Uma imensa caixa de madeira, envernizada com ceras vegetais para não apodrecer, contendo uma enorme Cruz vermelha desenhada. O Almirante logo percebeu se tratar de um caixote da Cruz Vermelha que, durante a Segunda guerra mundial, era atirado de pára-quedas, por aviões americanos, sobre ilhas remotas e desertas, na esperança de salvar eventuais soldados e refugiados que por ali estivessem alojados. Todos costumavam conter alimentos enlatados, medicamentos de primeiros socorros, roupas e cobertores. Não foi preciso cavilar nenhuma teoria para concluir o que se passou ali, entre os habitantes autóctones. Passaram a adorar a Cruz como signo de um Deus provedor ( In Hocus Signus Vince! Diria um desses lapões se latim soubessem!). O que ele não conseguiu explicar pelo resto da sua vida – suas memórias ainda hoje dormitam em uma gaveta sem serem publicadas -, era a semelhança que encontrou entre os sentimentos dos ilhéus e os de outros cristãos do ecúmeno. Compaixão, humildade, perdão, esperança e Fé em uma sobrevivência da alma pessoal, após um juízo universal... Valores sensivelmente antagônicos com a cultura primitiva e belicosa dos povos parentes mais próximos da vasta etnia polinésia. Chegou-se a especular, em uma série de correspondências com missionários e comandantes militares da época, sobre a hipótese de folhetos e revistas ilustradas terem acompanhado tais caixotes, permitindo alguma fabulação imagética. Não há registros de tal atitude no protocolo da Cruz Vermelha que sempre se pautou na isenção de cultos ou propaganda de qualquer espécie em suas atividades, como ainda hoje se pode perceber. Na velhice, Cassidy se convencera de que o simbolismo da Cruz, operando nos vestíbulos desconhecidos da alma humana, é capaz de, per si, suscitar bons sentimentos e percepções transcendentais sobre o Reino dos Céus anunciado por Jesus e seus apóstolos. Suas análises desse procedimento, pautado no farto material que coletou entre os nativos – fragmentos de mitologia, confissões sacerdotais, conselhos e simulacros de orações – tudo isso constitui o grosso de suas anotações memoráveis e contêm, além de um notável catecismo, os germes de uma singular psicologia da mente primitiva capaz assombrar os empoeirados corredores das nossas faculdades Humanistas. Pouco antes de falecer, se converteu ao catolicismo, embora de família protestante, justamente pela iconofilia mágico-religiosa que havia descoberto, estudado e comprovado sua eficácia. Seu filho, que se tornou um cineasta, provavelmente entusiasmado com essa possibilidade da imagem da Cruz possuir as virtudes pastorais reservadas eminentemente ao Verbo, me convidou para elaborar um roteiro cinematográfico sobre as descobertas do seu pai. Estou lendo as suas memórias e profundamente impressionado. Pode ser que essa madrugada o canto do galo venha a me encontrar mergulhado nessa história, contrito e em beatífico entusiasmo!
Em meados de 1952, durante a guerra da Coréia, o Almirante Cassidy Brooks aportou em uma distante e praticamente desconhecida ilha no arquipélago do Pacífico conhecido como Ilhas Fiji. Ali encontrou uma comunidade de primitivos melanésios autóctones e sem absolutamente contato com os homens ocidentais. O Almirante comenta que, apesar dos estudos feitos confirmarem que eles não possuíam de fato nenhum contato com a civilização ocidental, nenhum traço lingüístico, algum costume ou mesmo alguma lenda que revelasse um vago conhecimento sequer de outras culturas; esse ilhéus, entretanto, adorava uma cruz, ostensivamente tatuada nos corpos, fincada nas praças e no alto dos penhascos limítrofes da ilha com o oceano. Tão logo dominou rudimentos da língua nativa, o almirante percebeu que muitos dos valores e conceitos do cristianismo existiam incorporados ao repertório daquela exótica religião: um único Deus de origem Celestial, a compaixão e misericórdia pelos inimigos, o consórcio de anjos alados como mensageiros desse Deus e sua ressurreição de entre os mortos. Isso muito intrigava o antropólogo amador – na verdade, um militar em missão de guerra – pois, a mitologia e os ritos de outras tribos do arquipélago, do mesmo tronco lingüístico e filogenético destes, não possuíam absolutamente nada parecido, sendo todos animistas, politeístas ou mesmo absolutamente pagãos, como os famosos e hedonistas anfitriões do Almirante Cook. Após conquistar a confiança do sacerdote dessa pequena tribo, perdida em uma nebulosa e sonífera ilha do Pacífico, O almirante Cassidy conseguiu que os sacerdotes do culto da Cruz o levassem até o santuário onde havia a Cruz verdadeira que só os iniciados podiam adorar “ in sitio”. Em uma brumosa manhã, galgaram os penhascos onde havia a entrada de uma gruta e nela penetraram, logo atingiram uma espécie de átrio natural com um reverente altar no calcário esculpido. A luz das tochas revelou o objeto cultuado sobre ele. Uma imensa caixa de madeira, envernizada com ceras vegetais para não apodrecer, contendo uma enorme Cruz vermelha desenhada. O Almirante logo percebeu se tratar de um caixote da Cruz Vermelha que, durante a Segunda guerra mundial, era atirado de pára-quedas, por aviões americanos, sobre ilhas remotas e desertas, na esperança de salvar eventuais soldados e refugiados que por ali estivessem alojados. Todos costumavam conter alimentos enlatados, medicamentos de primeiros socorros, roupas e cobertores. Não foi preciso cavilar nenhuma teoria para concluir o que se passou ali, entre os habitantes autóctones. Passaram a adorar a Cruz como signo de um Deus provedor ( In Hocus Signus Vince! Diria um desses lapões se latim soubessem!). O que ele não conseguiu explicar pelo resto da sua vida – suas memórias ainda hoje dormitam em uma gaveta sem serem publicadas -, era a semelhança que encontrou entre os sentimentos dos ilhéus e os de outros cristãos do ecúmeno. Compaixão, humildade, perdão, esperança e Fé em uma sobrevivência da alma pessoal, após um juízo universal... Valores sensivelmente antagônicos com a cultura primitiva e belicosa dos povos parentes mais próximos da vasta etnia polinésia. Chegou-se a especular, em uma série de correspondências com missionários e comandantes militares da época, sobre a hipótese de folhetos e revistas ilustradas terem acompanhado tais caixotes, permitindo alguma fabulação imagética. Não há registros de tal atitude no protocolo da Cruz Vermelha que sempre se pautou na isenção de cultos ou propaganda de qualquer espécie em suas atividades, como ainda hoje se pode perceber. Na velhice, Cassidy se convencera de que o simbolismo da Cruz, operando nos vestíbulos desconhecidos da alma humana, é capaz de, per si, suscitar bons sentimentos e percepções transcendentais sobre o Reino dos Céus anunciado por Jesus e seus apóstolos. Suas análises desse procedimento, pautado no farto material que coletou entre os nativos – fragmentos de mitologia, confissões sacerdotais, conselhos e simulacros de orações – tudo isso constitui o grosso de suas anotações memoráveis e contêm, além de um notável catecismo, os germes de uma singular psicologia da mente primitiva capaz assombrar os empoeirados corredores das nossas faculdades Humanistas. Pouco antes de falecer, se converteu ao catolicismo, embora de família protestante, justamente pela iconofilia mágico-religiosa que havia descoberto, estudado e comprovado sua eficácia. Seu filho, que se tornou um cineasta, provavelmente entusiasmado com essa possibilidade da imagem da Cruz possuir as virtudes pastorais reservadas eminentemente ao Verbo, me convidou para elaborar um roteiro cinematográfico sobre as descobertas do seu pai. Estou lendo as suas memórias e profundamente impressionado. Pode ser que essa madrugada o canto do galo venha a me encontrar mergulhado nessa história, contrito e em beatífico entusiasmo!
A PRECESSÃO DOS EQUINÓCIOS
Quem saberia pintar a solidão destes prados secos?
O desdém da pequena nuvem no céu de um azul retinto?
Não sou eu quem sente, do sol inclemente, o calor.
Sou eu e o sol, que somos um só, na sensação que sinto.
Levantei o lençol do Rio da Ema
E vi onde se esconde a noite escura
Vi estrelas sonolentas devorando um peixe morto
Lançando, com suas caldas, lama em meu poema.
Cansado de problemas e negócios
Por longitudes e latitudes dilaceradas
Me converto na equação das trovoadas
E “chuvo” na linha fina dos equinócios!
O desdém da pequena nuvem no céu de um azul retinto?
Não sou eu quem sente, do sol inclemente, o calor.
Sou eu e o sol, que somos um só, na sensação que sinto.
Levantei o lençol do Rio da Ema
E vi onde se esconde a noite escura
Vi estrelas sonolentas devorando um peixe morto
Lançando, com suas caldas, lama em meu poema.
Cansado de problemas e negócios
Por longitudes e latitudes dilaceradas
Me converto na equação das trovoadas
E “chuvo” na linha fina dos equinócios!
segunda-feira, 1 de julho de 2013
É Cedo ou Tarde demais?
Você apareceu do nada.
E você mexeu demais comigo
Não quero ser só mais um amigo
Você nunca me viu sozinho
E você nunca me ouviu chorar
Não dá pra imaginar quando
É cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus
Pra dizer jamais.
Titãs
E você mexeu demais comigo
Não quero ser só mais um amigo
Você nunca me viu sozinho
E você nunca me ouviu chorar
Não dá pra imaginar quando
É cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus
Pra dizer jamais.
Titãs
sábado, 29 de junho de 2013
Reflexão
Cassiano Ribeiro Santos:
"Sábios são aqueles que vivem o bastante, para conhecer a natureza humana e sabe a hora certa de parar em um canto, construir um palácio de reminiscências e nele, no castelo da reflexão e na alegria de tudo reviver ao recordar, provar do delicioso vinho da sabedoria!"
Linda mensagem que nos convida a repensar os valores da nossa caminhada e a internalizar lembranças do que se foi estruturando com sabedoria, novos conceitos.
"Sábios são aqueles que vivem o bastante, para conhecer a natureza humana e sabe a hora certa de parar em um canto, construir um palácio de reminiscências e nele, no castelo da reflexão e na alegria de tudo reviver ao recordar, provar do delicioso vinho da sabedoria!"
Linda mensagem que nos convida a repensar os valores da nossa caminhada e a internalizar lembranças do que se foi estruturando com sabedoria, novos conceitos.
Palavras e Silêncios...
E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.
Ana Jácomo
Ana Jácomo
segunda-feira, 25 de março de 2013
QUANDO BEIJO AS ESTRELAS II
Aquela noite fora um dos raros momentos de privacidade
entre nós. Estávamos sozinhos na varanda da sua casa e eu
ouvia extasiado ela discorrer sobre temas complicados com a
graça típica das mulheres espirituosas e superficiais. Eu
estava apaixonado e talvez por isso inclinado a ouvir a sua
voz como um feitiço e suas palavras como um oráculo pleno
de sentidos misteriosos. Ela sabia da minha paixão declarada
em poemas plagiados e cartas afetadas mas, afirmando tudo
não passar de uma efêmera fascinação, tratava-me como um
admirador inofensivo e como um critério para a sua vaidade.
Sua serenidade emocional, sua habilidade em lidar com os
sentimentos e a minha tímida passividade conferiam a suas
opiniões uma sagacidade psicológica quando o assunto em
questão era o meu revelado amor. Ela quase me convencia
estar eu equivocado sobre o que verdadeiramente sentia; em
outros assuntos ela não era tão dominante assim. Nessa noite
o tema era mais prosaico, o riso, e eu lhe falava do
s meus comediantes preferidos. Disse-lhe não gostar muito
de Charles Chaplin, de haver algo de maldoso em seu olhar e
muita previsibilidade na desenvoltura do personagem
“Carlitos”. Ela contestou-me dizendo:
- Mas você gostava dele quando criança!
- Sim. Gostava muito
.
- Algo então lhe ocorreu bloqueando a espontaneidade do
seu riso. Ainda hoje as crianças gostam muito dele.
-Sim, Lílian – respondi quase revoltado por ela tentar
psicologizar o meu senso de humor – algo me ocorreu mas
não foi nenhum bloqueio. Eu mudei. As pessoas mudam
.
-Mudam parcialmente. A criança que sorria com Carlitos
ainda convive contigo e é hoje uma criança triste.
-Não! A mudança pode ser total.
-Uma metamorfose? – Perguntou ela com ironia
- Talvez. O corpo substitui todas as suas células em um
determinado intervalo de tempo, a nossa fisionomia pode se
tornar irreconhecível; até mesmo o cérebro, antes
considerado imutável, apresenta uma grande plasticidade se
for estimulado
...
-E a memória? Ela é o castelo inexpugnável da nossa
identidade e perdê-la significa enlouquecer. A metamorfose
total que você defende pode ser o cominho sem volta da
loucura.
-Devagar em suas conclusões! Eu posso ter uma memória
curta, não me lembrar de como eu era antes de uma longa
mudança e nem por isso me tornar um “desmiolado”. Essa
identidade que você supõe ser o estofo da nossa razão não
passa de uma grande ilusão, pois as ilusões são intrínsecas
à própria razão, já diziam os velhos kantianos. Quem pode
me garantir que eu fui mesmo a criança que hoje penso ter
sido? Assim como apagamos os traumas da nossa memória,
podemos fantasiar um pouco sem contudo cruzar as
fronteiras do patológico. A nossa tendência em imag
inar a infância como uma fase paradisíaca, - quando um
exame mais atento revela ser a infância uma idade plena de
problemas, dores e sofrimentos – expõe um pouco essa
plasticidade criativa onde se misturam lembranças e
fantasias...
-É possível. – Lílian parecia subitamente mergulhada em
tristes recordações – Sempre imaginei a minha infância
como feita de dias e noites encantadas mas também reco
rdo-me de uma constante fantasia. Antes de dormir, quando
bem menina, ficava na cama sonhando com uma máquina
fantástica onde houvesse um único botão: você o apertava e
PLIM!... Morria. Sem dor, sem médicos, sem nada. Como
posso ter sido feliz se dormia com um pensamento destes?
Nesse momento, insidioso como um ladrão noturno, eu
mudei o tom do meu discurso e passei a ser mais incisivo e
pessoal:
-As pessoas mudam, sim. Você irá mudar muito, Lílian, e,
quem sabe, mudar a ponto de amar-me um dia..
.
Ela voltou-se e me olhou como uma criança triste. Pela
primeira vez senti suas convicções abaladas. Talvez ela já
estivesse mudando as inclinações do seu coração, talvez
esperasse um gesto meu, efusivo, arrebatado e capaz de lhe
provar a intensidade do meu confesso amor, mas era eu
quem não acreditava em mudanças assim tão rápidas e me
despedi com esperanças de ver a sua metamorfose
consumada em poucos dias e, então, tê-la de corpo e alma.
De fato, ao encontrá-la semanas depois, ela estava muito
mudada e digo “muito” com um grande pesar, pois ela não
só se tornou a Lílian que me amava naquela noite mas
continuou a se modificar e já não sentia então por mi
m nem amor, nem vaidade, nem mesmo a curiosidade
habitual... nada! Nada além da profunda indiferença que
nutria agora por todos os pretendentes que não fosse
Frederico, o seu atual namorado. Assim foi que perdi um
grande amor por agir pouco e falar demais. Hoje, muitos
anos passados, gostaria de lhe dizer que eu não mudei nada e
continuo apaixonado. Gosto de imaginar que ela me amou
sob o tênue véu de uma noite. Isso ajuda-me a compor meus
poemas afetados.
@Cassidy Brook (Cassiano Ribeiro)
Quando Beijo As Estrelas
Era um morno fim de tarde, de um verão que não volta mais.
Estávamos na varanda de uma casa nas montanhas e
aguardávamos com solenidade o cair de uma noite
inopinada. Um temporal havia levado morro abaixo nosso
único poste de iluminação. A qualquer momento, uma
equipe de eletricistas iria aparecer, ou talvez não. Inquieto,
eu colecionava tocos de velas e tentava manter certos
hábitos, como ensaiar minhas aulas matinais. Regina, mais
etérea, contemplava, no banco nodoso feito com meio tronco
de ipê, o caprichoso acender das estrelas.
- Eu me esforço para ter uma ideia do infinito, mas não
consigo! - Comentou ela como se falasse para si mesmo,com
o olhar perdido nas pascalinas profundezas de um céu
índigo-blue.
- Um universo infinito soa tão absurdo para a minha razão...
Você também não pensa assim?
- Talvez você esteja concebendo o infinito com a imaginação
e por mais que você imagine uma vastidão do espaço, haverá
sempre mais espaço em volta até o limite final estabelecido
pelo fatal cansaço da sua imaginação... respondi.
- Então é impossível conceber o infinito?
- Enquanto quantidade, sim - eu falava como um professor -
mas enquanto qualidade, não. Posso conceber uma coisa que
possua, entre outros atributos, essa estranha propriedade de
não ter fim, e isso sem nenhuma contradição.
- Não seria apenas um jogo semântico? Possuir um conceito
de infinito significa necessariamente que algo infinito exista?
- Experimente pensar em algo que lhe seja mais íntimo: o
amor, por exemplo. Você provavelmente já amou alguma vez.
Seus olhos se voltaram para mim e brilharam mais do que as estrelas.
-Sim! Muito!
- Seu amor era Infinito, ou tinha limites?
- Era infinito!
- Não seria apenas um jogo semântico? - Provoquei-a
-Não. Era mesmo infinito; entretanto, teve fim... Não o amo
mais .
Você mudou, ou o seu amado, ou os dois mudaram, mas
não o amor. Sempre que amamos, o amor é infinito. Como
ele, também o universo não tem fim apesar da ciência
confundir, na arrogância dos seus folhetins, o limite da
especulação e da tecnologia com o termo final, no tempo e no
espaço, do universo sideral. Eu até diria até que o universo e
o amor são uma só e mesma coisa, mas você me acusaria de
espinosismo ou coisa pior.
..
-Seria infinita também a matéria do Universo?
_
Necessariamente! - Conclui lhe escondendo as premissas -
pela eternidade afora estaremos sempre descobrindo mais e
mais galáxias, novos conglomerados e distantes nebulosas. As
teorias científicas terão que ser reformuladas a toda semana
para estender os limites e apaziguar o espírito humano que
diante do infinito e do amor, sempre treme de medo.
_
Uma teoria cosmológica a cada semana! Agora entendo
como a ciência é folhetinesca! _ Neste universo infinito
existirá infinitos planetas iguais ao nosso, com infinitos casais
em um chalé nas montanhas contemplando as estrelas, e
infinitos mundos semelhantes com diferenças variando de
uma lua dupla a um grão de areia, uma terra onde floresce a
rosa azul, outro com desertos de ouro em pó e dragões
vermelhos...
_
Agora é você quem esta imaginando!
-Sim! E, como espelhos conjugados, imagino infinitas
Reginas a ouvir um poeta a sonhar na varanda; talvez, e
em um destes mundos, exista uma capaz de amar ao modo
infinito e de sentir o amor secreto a ela dedicado e capaz de
inspirar infinitas palestras.
.. Regina segurou a minha mão e comentou com um discreto
sorriso:
- É possível que este mundo esteja mais próximo do que
imaginamos!
Eu estava definitivamente nas estrelas, com o olhar perdido
no seu rabo de cometa. Lembro-me de ter concluído como se
conhecesse o universo inteiro:
- Seria sem dúvida o melhor dos mundos possíveis! - E
fechei os olhos à espera de um beijo!
Cassiano Ribeiro Santos ( @Cassidy Brook )
Estávamos na varanda de uma casa nas montanhas e
aguardávamos com solenidade o cair de uma noite
inopinada. Um temporal havia levado morro abaixo nosso
único poste de iluminação. A qualquer momento, uma
equipe de eletricistas iria aparecer, ou talvez não. Inquieto,
eu colecionava tocos de velas e tentava manter certos
hábitos, como ensaiar minhas aulas matinais. Regina, mais
etérea, contemplava, no banco nodoso feito com meio tronco
de ipê, o caprichoso acender das estrelas.
- Eu me esforço para ter uma ideia do infinito, mas não
consigo! - Comentou ela como se falasse para si mesmo,com
o olhar perdido nas pascalinas profundezas de um céu
índigo-blue.
- Um universo infinito soa tão absurdo para a minha razão...
Você também não pensa assim?
- Talvez você esteja concebendo o infinito com a imaginação
e por mais que você imagine uma vastidão do espaço, haverá
sempre mais espaço em volta até o limite final estabelecido
pelo fatal cansaço da sua imaginação... respondi.
- Então é impossível conceber o infinito?
- Enquanto quantidade, sim - eu falava como um professor -
mas enquanto qualidade, não. Posso conceber uma coisa que
possua, entre outros atributos, essa estranha propriedade de
não ter fim, e isso sem nenhuma contradição.
- Não seria apenas um jogo semântico? Possuir um conceito
de infinito significa necessariamente que algo infinito exista?
- Experimente pensar em algo que lhe seja mais íntimo: o
amor, por exemplo. Você provavelmente já amou alguma vez.
Seus olhos se voltaram para mim e brilharam mais do que as estrelas.
-Sim! Muito!
- Seu amor era Infinito, ou tinha limites?
- Era infinito!
- Não seria apenas um jogo semântico? - Provoquei-a
-Não. Era mesmo infinito; entretanto, teve fim... Não o amo
mais .
Você mudou, ou o seu amado, ou os dois mudaram, mas
não o amor. Sempre que amamos, o amor é infinito. Como
ele, também o universo não tem fim apesar da ciência
confundir, na arrogância dos seus folhetins, o limite da
especulação e da tecnologia com o termo final, no tempo e no
espaço, do universo sideral. Eu até diria até que o universo e
o amor são uma só e mesma coisa, mas você me acusaria de
espinosismo ou coisa pior.
..
-Seria infinita também a matéria do Universo?
_
Necessariamente! - Conclui lhe escondendo as premissas -
pela eternidade afora estaremos sempre descobrindo mais e
mais galáxias, novos conglomerados e distantes nebulosas. As
teorias científicas terão que ser reformuladas a toda semana
para estender os limites e apaziguar o espírito humano que
diante do infinito e do amor, sempre treme de medo.
_
Uma teoria cosmológica a cada semana! Agora entendo
como a ciência é folhetinesca! _ Neste universo infinito
existirá infinitos planetas iguais ao nosso, com infinitos casais
em um chalé nas montanhas contemplando as estrelas, e
infinitos mundos semelhantes com diferenças variando de
uma lua dupla a um grão de areia, uma terra onde floresce a
rosa azul, outro com desertos de ouro em pó e dragões
vermelhos...
_
Agora é você quem esta imaginando!
-Sim! E, como espelhos conjugados, imagino infinitas
Reginas a ouvir um poeta a sonhar na varanda; talvez, e
em um destes mundos, exista uma capaz de amar ao modo
infinito e de sentir o amor secreto a ela dedicado e capaz de
inspirar infinitas palestras.
.. Regina segurou a minha mão e comentou com um discreto
sorriso:
- É possível que este mundo esteja mais próximo do que
imaginamos!
Eu estava definitivamente nas estrelas, com o olhar perdido
no seu rabo de cometa. Lembro-me de ter concluído como se
conhecesse o universo inteiro:
- Seria sem dúvida o melhor dos mundos possíveis! - E
fechei os olhos à espera de um beijo!
Cassiano Ribeiro Santos ( @Cassidy Brook )
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