CASSIANO R. SANTOS
QUARTA, 19 DE OUTUBRO DE 2011 ÀS 15:51
Em uma passagem lapidar de sua obra mestra, a Ética,
Benedito Espinhoso define o homem, no seu estado natural
de servo das paixões, com um ente constituído de três afetos:
honra, dinheiro e prazeres sexuais. Em seguida vai traçar o
íngreme e heróico caminho que permite ao homem
ultrapassar essa condição e se tornar um bem aventurado
pensador! Vamos imaginar por um momento a vida desse
homem escravo dos três afetos essenciais, e pensar o que
costuma lhe acontecer quando não lhe advém tornar-se um
pensador. Abstraindo os acidentes a que ele está submetido,
assim como ao sábio, sua vida pode se prolongar por um
tempo finito e indefinido. Ele irá se lançar na
busca desenfreada por aquilo que o afeta: Vasculhará os rios
do kontike em busca de ouro, percorrerá as alcovas, seguindo
os passos de Don Juan à procura do incerto amor das
mulheres, e não hesitará em arriscar a própria vida para se
tornar um herói e ser carregado em glória pelo seu povo.
Isso, é claro, enquanto forças ele tiver, pois, tão logo ceda os
arroubos da juventude, ele precisa sacrificar um destes
afetos: Primeira opção, abandona o amor ao dinheiro e só
pensa em honrarias e mulheres (o dinheiro geralmente
servindo para estes fins, não mais como uma ânsia de
acumular). A depender de seu temperamento ou de outras
vicissitudes imponderáveis, poderá também desistir dos
prazeres sexuais e se entregar a busca do sucesso e do
dinheiro; por fim, outros podem dar uma banana para a sua
reputação e viver entregue à cobiça do dinheiro e das
mulheres (a maioria dos meus amigos é assim!).... Mas um
dia, também essa disposição é devorada por saturno
implacável e a idade lhos força a renunciar de novo! Tornam-
se idosos com apenas um afeto a guiar seus passos, como um
carrapato pendurado e adormecido no galho de uma árvore
indiferente ao mundo inteiro e afetado apenas pelo suor de
um mamífero de sangue quente que, por ventura, passe
embaixo. Será então um velho avarento feito o Scrooge de
Dickens contando seu dinheiro escondido no colchão ou na
bolsa de valores, sem se importar com honrarias ou
mulheres. Será um venerável ancião cumprimentado
cerimoniosamente por todos (fingindo não ouvir as chacotas
dos mais jovens), solitário e parcimonioso com sua
aposentadoria; ou, finalmente, se tornará um destes
execráveis sibaritas, sem honra, sem dinheiro nenhum,
enterrado nos prostíbulos, bajulando as putas para ter a sua
dose diária de delícias entre coxas de cetim!!!
Você, caro amigo, já esolheu qual destes será o seu fim?