segunda-feira, 25 de março de 2013

Quando Beijo As Estrelas

 Era um morno fim de tarde, de um verão que não volta mais. 

Estávamos na varanda de uma casa nas montanhas e

aguardávamos com solenidade o cair de uma noite 

inopinada. Um temporal havia levado morro abaixo nosso

 único poste de iluminação. A qualquer momento, uma

 equipe de eletricistas iria aparecer, ou talvez não. Inquieto,

 eu colecionava tocos de velas e tentava manter certos

 hábitos, como ensaiar minhas aulas matinais. Regina, mais

 etérea, contemplava, no banco nodoso feito com meio tronco

 de ipê, o caprichoso acender das estrelas. 

- Eu me esforço para ter uma ideia do infinito, mas não

consigo! - Comentou ela como se falasse para si mesmo,com 

 o olhar perdido nas pascalinas profundezas de um céu 

índigo-blue.

- Um universo infinito soa tão absurdo para a minha razão... 


Você também não pensa assim?

- Talvez você esteja concebendo o infinito com a imaginação


 e por mais que você imagine uma vastidão do espaço, haverá

 sempre mais espaço em volta até o limite final estabelecido

 pelo fatal cansaço da sua imaginação... respondi.

- Então é impossível conceber o infinito?


- Enquanto quantidade, sim - eu falava como um professor - 


mas enquanto qualidade, não. Posso conceber uma coisa que

 possua, entre outros atributos, essa estranha propriedade de

 não ter fim, e isso sem nenhuma contradição.

- Não seria apenas um jogo semântico? Possuir um conceito


 de infinito significa necessariamente que algo infinito exista?

- Experimente pensar em algo que lhe seja mais íntimo: o 


amor, por exemplo. Você provavelmente já amou alguma vez.

Seus olhos se voltaram para mim e brilharam mais do que as estrelas.


-Sim! Muito!


- Seu amor era Infinito, ou tinha limites?


- Era infinito!


- Não seria apenas um jogo semântico? - Provoquei-a 


-Não. Era mesmo infinito; entretanto, teve fim... Não o amo 


mais .

Você mudou, ou o seu amado, ou os dois mudaram, mas

não o amor. Sempre que amamos, o amor é infinito. Como 

ele, também o universo não tem fim apesar da ciência 

confundir, na arrogância dos seus folhetins, o limite da 

especulação e da tecnologia com o termo final, no tempo e no 

espaço, do universo sideral. Eu até diria até que o universo e 

o amor são uma só e mesma coisa, mas você me acusaria de 

espinosismo ou coisa pior.
 ..
 -Seria infinita também a matéria  do Universo?
_
Necessariamente! - Conclui lhe escondendo as premissas - 

pela eternidade afora estaremos sempre descobrindo mais e 

mais galáxias, novos conglomerados e distantes nebulosas. As 

teorias científicas terão que ser reformuladas a toda semana 

para estender os limites e apaziguar o espírito humano que 

diante do infinito e do amor, sempre treme de medo.
_

 Uma teoria cosmológica a cada semana! Agora entendo 

como a ciência é folhetinesca! _ Neste universo infinito 

existirá infinitos planetas iguais ao nosso, com infinitos casais 

em um chalé nas montanhas contemplando as estrelas, e 

infinitos mundos semelhantes com diferenças variando de 

uma lua dupla a um grão de areia, uma terra onde floresce a 

rosa azul, outro com desertos de ouro em pó e dragões 

vermelhos...

Agora é você quem esta imaginando!

 -Sim! E, como espelhos conjugados, imagino infinitas 


Reginas a ouvir um poeta a sonhar na varanda; talvez, e

em um destes mundos, exista uma capaz de amar ao modo

 infinito e de sentir o amor secreto a ela dedicado e capaz de

inspirar infinitas palestras.
.. Regina segurou a minha mão e comentou com um discreto 
sorriso: 

- É possível que este mundo esteja mais próximo do que

imaginamos! 

Eu estava definitivamente nas estrelas, com o olhar perdido 


no seu rabo de cometa. Lembro-me de ter concluído como se

conhecesse o universo inteiro:

- Seria sem dúvida o melhor dos mundos possíveis! - E 


fechei os olhos à espera de um beijo!

Cassiano Ribeiro Santos ( @Cassidy Brook ) 

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