Era um morno fim de tarde, de um verão que não volta mais.
Estávamos na varanda de uma casa nas montanhas e
aguardávamos com solenidade o cair de uma noite
inopinada. Um temporal havia levado morro abaixo nosso
único poste de iluminação. A qualquer momento, uma
equipe de eletricistas iria aparecer, ou talvez não. Inquieto,
eu colecionava tocos de velas e tentava manter certos
hábitos, como ensaiar minhas aulas matinais. Regina, mais
etérea, contemplava, no banco nodoso feito com meio tronco
de ipê, o caprichoso acender das estrelas.
- Eu me esforço para ter uma ideia do infinito, mas não
consigo! - Comentou ela como se falasse para si mesmo,com
o olhar perdido nas pascalinas profundezas de um céu
índigo-blue.
- Um universo infinito soa tão absurdo para a minha razão...
Você também não pensa assim?
- Talvez você esteja concebendo o infinito com a imaginação
e por mais que você imagine uma vastidão do espaço, haverá
sempre mais espaço em volta até o limite final estabelecido
pelo fatal cansaço da sua imaginação... respondi.
- Então é impossível conceber o infinito?
- Enquanto quantidade, sim - eu falava como um professor -
mas enquanto qualidade, não. Posso conceber uma coisa que
possua, entre outros atributos, essa estranha propriedade de
não ter fim, e isso sem nenhuma contradição.
- Não seria apenas um jogo semântico? Possuir um conceito
de infinito significa necessariamente que algo infinito exista?
- Experimente pensar em algo que lhe seja mais íntimo: o
amor, por exemplo. Você provavelmente já amou alguma vez.
Seus olhos se voltaram para mim e brilharam mais do que as estrelas.
-Sim! Muito!
- Seu amor era Infinito, ou tinha limites?
- Era infinito!
- Não seria apenas um jogo semântico? - Provoquei-a
-Não. Era mesmo infinito; entretanto, teve fim... Não o amo
mais .
Você mudou, ou o seu amado, ou os dois mudaram, mas
não o amor. Sempre que amamos, o amor é infinito. Como
ele, também o universo não tem fim apesar da ciência
confundir, na arrogância dos seus folhetins, o limite da
especulação e da tecnologia com o termo final, no tempo e no
espaço, do universo sideral. Eu até diria até que o universo e
o amor são uma só e mesma coisa, mas você me acusaria de
espinosismo ou coisa pior.
..
-Seria infinita também a matéria do Universo?
_
Necessariamente! - Conclui lhe escondendo as premissas -
pela eternidade afora estaremos sempre descobrindo mais e
mais galáxias, novos conglomerados e distantes nebulosas. As
teorias científicas terão que ser reformuladas a toda semana
para estender os limites e apaziguar o espírito humano que
diante do infinito e do amor, sempre treme de medo.
_
Uma teoria cosmológica a cada semana! Agora entendo
como a ciência é folhetinesca! _ Neste universo infinito
existirá infinitos planetas iguais ao nosso, com infinitos casais
em um chalé nas montanhas contemplando as estrelas, e
infinitos mundos semelhantes com diferenças variando de
uma lua dupla a um grão de areia, uma terra onde floresce a
rosa azul, outro com desertos de ouro em pó e dragões
vermelhos...
_
Agora é você quem esta imaginando!
-Sim! E, como espelhos conjugados, imagino infinitas
Reginas a ouvir um poeta a sonhar na varanda; talvez, e
em um destes mundos, exista uma capaz de amar ao modo
infinito e de sentir o amor secreto a ela dedicado e capaz de
inspirar infinitas palestras.
.. Regina segurou a minha mão e comentou com um discreto
sorriso:
- É possível que este mundo esteja mais próximo do que
imaginamos!
Eu estava definitivamente nas estrelas, com o olhar perdido
no seu rabo de cometa. Lembro-me de ter concluído como se
conhecesse o universo inteiro:
- Seria sem dúvida o melhor dos mundos possíveis! - E
fechei os olhos à espera de um beijo!
Cassiano Ribeiro Santos ( @Cassidy Brook )
Beleza! Agora sim, está publicado no lugar adequado!
ResponderExcluirPuxa... que lindo!! ♥
ResponderExcluirGostou, Rubeta? Quando sair o livro daremos um descontinho
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