sábado, 5 de outubro de 2013

O SEM QUERER, QUERENDO DOS FILÓSOFOS!

Cassiano Ribeiro Santos





Em seus florilégios sobre o verdadeiro amor, Sócrates nos ensinava a não utilizar de rasgados elogios exaltando o ser amado, pois, caso viesse a conquistá-lo, todo o mérito seria atribuído ao amante vencedor, aos seus belos discursos e a desonra muito em breve cobriria o ser amado tornando-o vulgar e desinteressante. "Ela cedeu pela beleza dos meus encômios, pela verdade do meu amor, ou se entregou a mim por ser volúvel e barata"? Eis um tipo de questão que muito cedo assalta a mente de um dom Juan! Por outro lado, caso o ser amado não ceda ao assédio dos discursos inflamados, o mérito e o valor desse ser amado toma proporções irreais, aumentando assim o sofrimento e a derrota do amante frustrado. O que o apaixonado deve fazer é estimular, no ser amado, um amor em comum por um bem maior e exterior aos dois em questão. No amor comum por outra e diferente coisa, o amante e a amada podem compartilhar seus sentimentos com proporção e valor adequado. Podemos ver isso nos casais que, através dos filhos, continuam se amando, nos aficionados por uma arte ou esporte que vivem juntos com ardor a cultivo dessa arte ou a prática desse esporte, mas também, e principalmente, quanto mais elevado e duradoiro for a coisa comum compartilhada pelos sentimentos do casal, mais sublime e verdadeiro será esse amor comunal, como esses casais que professam a mesma e sincera fé em Deus, ou o mesmo ardor pela sabedoria. Esse é, grosso modo, o verdadeiro sentido do amor platônico, tão vulgarizado pela sub-literatura. Considerando que o verdadeiro amor, o mais valioso, era mesmo o amor pela Filosofia e, como era ele, Platão, o inventor da filosofia tal qual conheceríamos, não estranharemos a quem deduzir que Platão queria mesmo dizer que o verdadeiro amor era amar a obra que ele escrevia! Nenhuma novidade nisso! Ser amado por seus leitores é a ambição maior de todo pensador! O próprio Espinosa, aparentemente tão sóbrio, fora capaz de desqualificar a Bíblia Sagrada como modelo de sabedoria dos homens para, sub-repticiamente, afirmar que sua Ética deveria ser a escolhida como modelo de vida (que ele não a tenha publicada em vida, é irrelevante, visto que ele a sonhou para ser lida posteriormente). Vemos assim, de modo apressado e temerário, que a transcendência proposta pelo amor platônico é apenas um disfarce da vontade imperiosa do amante em seduzir. Cuidado, incautas!

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