segunda-feira, 19 de março de 2012

AMPHIBETESES KALLÓS


Autor:Cassiano Ribeiro Santos

Embevecido pelo sucesso de sua Obra-mor, Helena de Tróia, para cujo quadro escolhera as cinco moças mais belas de Atenas como modelo, retirando de cada uma os mais belos atributos (fiel à lenda de que nenhuma mulher viva se comparava com Helena), o pintor Zêuxis desafiava todo pintor cujo talento ousasse rivalizar com o seu. Em um destes desafios – chamados de Amphibeteses Kallós - ao pintor Parrásio, combinaram que cada um pintaria uma tela que seria submetida ao júri popular na ágora do mercado. Assim fizeram. Pintaram sua telas magistrais e as perfilaram, cobertas por uma cortina e cercadas de curiosos. Confiante, Zêuxis tratou de abrir a cortina da sua obra e descortinar o seu gênio pictórico. Uma epifania! Cachos de uva pintados com tamanho realismo, vivacidade e perfeição que, da copa das árvores, vários pássaros mergulharam sobre a tela, bicando-a em frenesi, tentando colher os sumarentos e mimosos bagos dos cachos ali simulados. Um frisson percorreu a multidão, sempre disposta a ver sinais divinos em todos os fenômenos. Zêuxis se sentiu um semideus e, quase piedosamente, pediu à Parrásio que descortinasse o seu arremedo de pintura. Parrásio permaneceu imóvel, talvez temendo se comparar com tão gigantesco pintor! Zêuxis insistiu e, percebendo que seu desafiante não tinha coragem, correu ele mesmo para descortinar o quadro! Seus dedos, por alguns segundos, tatearam em vão, até perceberem que ali não havia cortina nenhuma e sim uma cortina pintada, magnificamente intocada pelo vento que, junto ao silêncio das árvores e da plateia, pareciam reverenciar tão sublime eikasia!
Envergonhado e abatido, Zêuxis teve a grandeza de reconhecer a vitória do oponente, pois, enquanto ele enganou os pássaros, Parrásio havia enganado ao próprio e autointitulado Pintor-mor da Grécia!

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