terça-feira, 13 de março de 2012

Era outono de 1986. Com 23 anos, eu desembarcava no Rio de Janeiro para doze anos de aventuras inesquecíveis que não caberiam em nenhum livro. Em um cinema de Copacabana, já decadente e todo em veludo vermelho, piso e poltronas, fui ver um belo filme de James Ivory, um cineasta inglês vigoroso e romântico. Uma Janela para o Amor, o nome do filme. Nele, uma linda garota contava, em um luminoso jardim, seus sonhos de revolucionária, seus projetos de se alistar no movimento operário feminino, discursar para as multidões e conquistar os direitos que todas as mulheres deveriam compartilhar em igualdade com os homens. Seu namorado a escuta atentamente. Então, após ela abrir seu coração, ele contra argumenta, segurando-a forte pelos braços, olhando em seus olhos e dizendo-lhe:
_ Você não foi feita para a política, para as multidões. Você foi feita para a intimidade, para o amor.. Você foi feita para mim! – E sapeca-lhe um beijo arrematador (e arrebatador aussi).
Eu fiquei bastante empolgado com essa cena e fico pensando como, cínico feito um verdureiro vigarista, usei por tantas vezes esse chaveco nas estudantes que conheci nos anos seguintes. Em quase todas, eu caprichava no beijo como se estivesse em um filme. Talvez, de fato, estivesse!

Cassiano Ribeiro Santos

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