terça-feira, 13 de março de 2012






Nos modernos filmes de science-fiction, tais como Matrix, A Origem, Contra o Tempo e outros blockbusters americanos, vem surgindo uma nova modalidade de empatia estética (Einfühlung, termo cunhado por Theodor Lipps para explicar a identificação do espectador com a personagem de uma obra, para além do dinamismo aristotélico). Essa nova modalidade ocorre quando um protagonista, após um implante cerebral ou outro procedimento fabuloso, acorda subitamente no corpo de outra pessoa, ou no cérebro, ou mesmo em outra época desconhecida. Sem saber absolutamente nada do que se passa ao seu redor, sem entender o porquê de estar ali ou se está sonhando acordado, esse protagonista assume o papel do próprio espectador, que também não faz a menor idéia do que vai acontecer em seguida. Enquanto nos filmes de ação tradicionais, a personagem é sempre temperada e localizada, por mais insólita que seja a situação em que ela se encontra, nos transapoints do cinema moderno, ela não possui mais o eixo cartesiano da normalidade circunstancial. Torna-se uma personagem esquizofrênica e nos arrasta juntos no descobrimento de uma nova dimensão, no prazeroso exercício de por ordem e dar sentido ao mundo. Lamentavelmente, por força das exigências do entretenimento, essas situações de abdução ainda são estúpidas e violentas, banhadas no sangue estupefaciente do heroísmo malsão, mas podemos esperar que, em breve, artistas mais refinados possam explorar esses recursos e nos transportar para novos sonhos cinematográficos como essas fantásticas e proustianas experiências em que acordamos de manhã sem saber onde estamos, quem somos, em que tempo vivemos; experiência de um vazio intenso que pode muito bem ser preenchidas pela fantasia e vertigem desse mágico e empático écran: o cinema!
Cassiano Ribeiro Santos

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